quinta-feira, 28 de maio de 2009

No país da fofoca...

Os dois têm em comum, primeiramente, o fato de serem autores, pois em todas as obras que produziram sempre desempenharam essa função, mesmo que concomitantemente a outras.
Esse viés autoral é o principal atrativo de seus discursos.
Arnaldo Jabor produziu filmes sobre a obra de Nelson Rodrigues com toda a força e acidez inerentes a esta e herdou do dramaturgo (além de outras coisas) brasileiro o estilo provocador, debochado e contraditório (a maior qualidade de todas).
Bruno Mazzeo, que ainda não possui obra cinematográfica, produziu e atuou em séries televisas como “Sai de Baixo” e “Cilada”, famosas pela crítica às situações peculiares do modo de vida brasileiro.
Ou seja, ambos fizeram uso do cotidiano brasileiro de determinada época para dar aquela "cutucada leve na ferida social brasileira".
E ambos utilizaram para isso o humor tragicômico, não o humor pastelão, escrachado, estúpido, que tem o seu lugar, principalmente em alguns lugares.
Esse humor tragicômico nada mais é do que fina ironia (ou grotesca, se interessar), de longe a forma mais inteligente de todas de se criticar.
A diferença está nas nuances dessa ironia.
Jabor faz uso de um humor mais corrosivo e personalista, conferindo-lhe à sua personalidade a alcunha do que costumam chamar de "polêmico".
Já Mazzeo opta por um humor mais leve, agradável de se olhar, aparentemente menos mordaz à primeira vista de um leitor pouco atento.
Jabor é mais cítrico, quase azedo. Já Mazzeo é mais docinho.
A força da crítica de Bruno Mazzeo mora justamente na simplicidade e objetividade com que ele trata de temas tão esquizofrênicos e de costume da sociedade no Brasil.
Jabor é mais sutil, menos claro que Mazzeo, dá brecha à um número mais abrangente de interpretações e enriquece assim o conteúdo mutável de sua obra.
Isso se percebe na escrita e na escolha das intertextualidades dos dois autores.
Mazzeo é mais intimista, mais próximo do leitor em geral em consequência da maior simplicidade e cotidianeidade que adota, enquanto Jabor declara suas emoções de maneira mais distante.
Embora na atuação um pouco disso se inverta, já que Jabor é mais passional e imediato no trato ocular com seu telespectador, enquanto Mazzeo se utiliza de gestos mais contidos.
No entanto, o linguajar escolhido para abordar a realidade continua deixando Mazzeo mais próximo do sofá da sala de quem o assiste.
A qualidade mais forte dos dois é que nenhum deles (aparentemente) se auto censura, já que a internet e o blog ainda são o grande refúgio de liberdade extrema (e externa) do homem, dando espaço tanto a futebol como a padres pedófilos. E isso é um grande mérito, pois como disse outro célebre "opinador", o cantor e compositor Lobão : "no país da fofoca opinião ainda é um tabu", e Jabor e Mazzeo são muito precisos nesta.
Talvez tenha se encontrado na internet finalmente o lugar ideal para se instalar um "regime anárquico", no país da fofoca...

Raphael Vidigal

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